Arabia Saudita |
A vida pode ser uma surpresa e um desafio constantes!
Porquê?
Primeiro, eu nunca quis emigrar.
Segundo, quando decidi emigrar, eu disse a mim mesma e a todos que nunca iria para a Arábia Saudita, apesar de haver tantas e apelativas ofertas para os enfermeiros.
Porque mudei de ideias?
Longa história...
Quando em Novembro de 2012 decidi demitir-me dos meus dois empregos em Portugal, fazer uma viagem de 2 meses pelo Sudoeste Asiático e pela Oceania, e quando regressasse, procurar emprego fora de Portugal, Dubai e Londres eram os únicos destinos onde que eu pensava viver.
Londres, pela proximidade com Portugal, facilidade com a língua, diversidade de voos, presença de familiares e amigos na cidade, gosto pela capital inglesa e estilo de vida, e claro, melhores condições de trabalho, carreira e salário.
Dubai, pela localização intermediaria entre os meus dois países de eleição, Portugal e Tailândia, pelo clima bem mais apetecível do que o Londrino, e claro, pelas excelentes condições de trabalho e salário.
A minha maior ambição, quando decidi emigrar, era, acima de tudo, "ter tempo"! A situação económica de Portugal, a ausência de carreira na minha profissão, os cortes constantes no salário e consequentemente no poder de compra, na qualidade de vida e a dificuldade de concretizar os meus sonhos (um dos quais se resume ao poder continuar a ser "nómada" e a dar sentido a este Blog), aliado ao facto de não ter ninguém dependente de mim e sentir-me preparada a adaptar-me, a abraçar um desafio e a procurar uma vida melhor, foram os principais motivos que me levaram a emigrar. Não queria ter que trabalhar em dois sítios, queria ter um só emprego, ter um salário justo e sentir-me motivada no meu local de trabalho. Enfermagem ultrapassa desafios em Portugal e a desmotivação é gigantesca e generalizada. No entanto, é uma das melhores profissões do mundo, pois, em qualquer canto dele, os enfermeiros são necessários. Quer seja em países onde se consegue ter qualidade de vida e ganhar dinheiro, quer seja em países onde a enfermagem esta integrada em projectos humanitários e onde se podem ter experiências gratificantes e inesquecíveis.
Em Outubro de 2012, após uma candidatura aos Médicos Sem Fronteiras de Franca, fui chamada para uma entrevista em Paris, que durou 2 horas e meia e depois dessa longa conversa com a pessoa responsável pelo recrutamento eu recebi a resposta: "Bem-vinda, faz agora parte do pool de enfermeiros de MSF de Franca". Enquanto aguardava missão, enviava o meu currículo para agências recrutadoras e procedia ao trabalho burocrático de inscrição na NMC inglesa, que é o equivalente à Ordem dos Enfermeiros em Portugal. Durante os 2 meses em que fazia este trabalho, fui contactada por varias agências e Hospitais ingleses, mas sem o registo concluído na NMC não podia dar uma data para começar a trabalhar. Foi após o meu registo na CCM Recruitment que fui contactada pela primeira vez para ir trabalhar para a Arábia Saudita e apesar da oferta apelativa, dos 3500 euros mensais livres de impostos, alojamento e transporte gratuito, seguro de saúde, 46 dias de ferias anuais, etc, etc, eu disse "NÃO". Apenas aceitava, dento do Médio Oriente, ir trabalhar para o Dubai ou Abu Dhabi onde, apesar de pagarem menos 1000 euros mensais, havia maior tolerância cultural e maior "abertura de mente". Eu não queria sentir a castração cultural da Arábia Saudita, o pais que eu considerava ser o pior do mundo para uma mulher (latina) viver! Mas o que me fez mudar de ideias? Uma semana depois a CCM recruitment voltou a contactar-me para me oferecer 1 dos 8 lugares disponíveis para um contrato de 3 meses, em que poderia usufruir de todas as regalias de um contrato normal, com a duração de 3 meses, mas com a possibilidade de estender o contrato, pois é de todo o interesse do Hospital, que esta a expandir o numero de camas, manter-me motivada em querer continuar com eles. Bem...sentir-me valorizada num Hospital Internacional é bastante gratificante. Tomara que todos os excelentes profissionais que temos em Portugal, enfermeiros de profissão, pudessem sentir este abraço do nosso país, dos nossos hospitais portugueses...
Assim, sem nada a perder, e com bastante optimismo, abertura ás diferentes possibilidades sobre o futuro e com consciência sobre a minha capacidade de adaptação a um mundo que em tudo é diferente do nosso Portugal, rumei a Jeddah! Felizmente a chamada foi para Jeddah e não Riad...felizmente pois em Jeddah há algo que me poderia dar calor nos dias frios da saudade...o Mar! Neste caso, o Mar Vermelho!
E assim, cheguei, no inicio do anoitecer do dia 9 de Maio, ao aeroporto de Jeddah!
Chegada a Jeddah |
Rasgos humanos numa terra arida, com um pouco de beleza do Mar Vernelho |